A vontade de Deus

quinta-feira, 27 de março de 2014


A chuva caiu forte. Todo o povoado comentava que era vontade de Deus.

E, como de outras vezes já ocorrera, o enorme tronco de uma figueira se atravessou na estrada, despencando do morro, e deixou totalmente isolada aquela comunidade.

Pedras se deslocaram, rolando morro abaixo. A enxurrada varria as ruas, com violência.

Enquanto cada um lamentava e entrava em sua casa para racionar a comida para os próximos dias, o menino da casa de flores amarelas saiu em disparada para o meio do mato.

Não lhe importava a chuva que continuava caindo, embora menos intensa. Habitualmente, era ali, debaixo da copa das árvores, que ele dialogava com seu anjo, da mesma forma que o fazia, à noite, em suas orações, antes de dormir.

Meio sem jeito, Pedro perguntou o motivo daquela chuva, daquele tronco, tudo de novo, como de outras vezes passadas. Seus pais estavam cansados daquilo, seus amigos também.

Mas o anjo confirmou: Foi Deus mesmo quem mandou a chuva.

Aquilo incomodou o garoto. Ele saiu dali e foi em direção ao tronco. Atirou-se na lama e se pôs a empurrar a enorme figueira tombada.

Os mais velhos esbravejavam, cada um em sua porta. E diziam da inutilidade daquilo. O anjo ficou à frente do seu pupilo e o incentivou: Você consegue. Não pare. Continue.

Com os braços tremendo e as mãos arranhadas, alguns minutos depois, Pedro olhou para o lado. Todas as crianças da vila haviam se juntado a ele e empurravam.

Enquanto faziam força, riam dos seus escorregões, da lama em seus corpos, da cara suja. E brincavam, deixando que a chuva lhes lavasse as manchas da roupa. Empenhavam-se como irmãos.

Com o insucesso de retirar os filhos do tronco deitado, as mães e as avós resolveram participar da fantasia dos meninos. Logo, os homens se mobilizaram.

Largaram seus copos de café, que esquentavam seus corpos, e se colocaram à disposição do que consideravam uma causa perdida, uns em respeito às suas esposas, outros pelos seus filhos.

Depois de muito esforço, conseguiram deslocar a figueira para o lado. O caminho estava livre.

A seguir, providenciaram a retirada das grandes pedras do meio das ruas.

Aqueles momentos conectaram para sempre aquela gente. As faltas foram perdoadas, as desculpas foram aceitas.

Eram todos companheiros, empenhados num único propósito.

A discórdia deu lugar à união, o desespero à esperança, a tristeza à alegria, as trevas à luz e a dúvida à fé.

Finalmente, a comunidade havia entendido a vontade de Deus. Ele mandara a chuva, que desencadeara o episódio da derrubada da figueira e o deslocamento das grandes pedras.

Contudo, a união de todos, o esforço conjugado, resolvera a dificuldade.

Pedro descansava na lama, agora, enquanto sentia o afago de seus pais.

E todos haviam aprendido que o êxito é uma bênção de forças conjugadas da natureza, enquanto a força é ato, que significa compromisso no bem ou no mal, é a palavra que edifica ou destrói.

A oportunidade é a nossa porta de luz, no sagrado momento que passa.

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Você parou para pensar?

terça-feira, 25 de março de 2014


Você parou para pensar que se o ar que você respira não fosse fornecido pelo nosso Pai Celeste, custaria muito caro? Possivelmente, alguma concessionária tomaria para si os direitos de distribuição e cobraria o que bem entendesse. E porque todos têm absoluta necessidade dele, teriam que pagar, como pudessem.

Em alguns dias, dada a inabilidade de alguém, poderia ocorrer uma pane e o ar ficar extremamente rarefeito, inadequado à respiração comum. Ou mesmo faltar, em algumas regiões, ocasionando sérios transtornos à vida na Terra.

Você parou para pensar que o Excelso Criador poderia ter feito tudo sobre a Terra em preto e branco? Pois é: não teríamos a elegância das madrugadas, o encanto das nuvens, o colorido do arco-íris, das auroras boreais e dos campos em flor.

Tudo seria monocromático. Com certa beleza, é verdade, mas incomparavelmente monótono, num suceder de branco, preto, branco.

Não teríamos como mergulhar nos olhos azuis, castanhos, cinzas, verdes, dos nossos amores.

Você parou para pensar quantos amanheceres você não assistiu porque estava dormindo? E quantos crepúsculos, por estar envolto em seus afazeres ou demasiadamente distraído?

Pois Deus, o Eterno Artista, não se incomoda. Ele providencia novos amanheceres, a cada desabrochar de dia. E para o encerramento, se esmera em extraordinários crepúsculos.

Tão espetaculares que os homens os fotografam, registram e realizam concursos para eleger o mais bonito pôr-do-sol.

Você parou para pensar na qualidade de certos quadros, que retratam determinadas figuras célebres? Você parou para pensar quão admirável é a Mona Lisa, exposta no Museu do Louvre, em Paris?

Contudo, o Pintor e Escultor maior produziu uma obra ainda mais extraordinária. Uma obra que, ademais, registra o decorrer dos anos em arabescos caprichosos e vai se colorindo ou descolorindo com o sol, a chuva, os ventos.

Basta que você se olhe ao espelho para descobrir: é você essa obra prima.

Você parou para pensar como o Jardineiro Divino tem um especial esquema de irrigação para a imensa natureza? Em certos períodos, providencia chuvas intensas, em outros, usa somente o regador para aguar as plantinhas, suave e delicadamente.

Você parou para pensar que nunca está sozinho, que sempre tem Deus por perto? Mesmo quando as nuvens se tornam escuras, parecendo prontas para desaguar em tempestade, mesmo quando os ventos sopram em tormenta.

Deus está sempre por perto, atento, somente esperando que você O descubra em sua intimidade e dialogue com Ele. Um bate-papo descontraído do filho para o Pai.

E, se prestar atenção, ouvirá a advertência: Meu filho, que parte de Isso não é correto, você não entendeu?

Dei-lhe o mundo todo de riquezas e oportunidades, para seu campo de trabalho e de gozo. Por que você fica encrencando com seus irmãos, em vez de ser feliz e crescer?

Por que você fica disputando um pedaço de terra se é herdeiro do Universo? Por que fica angustiado pela posse de bens perecíveis, quando lhe aguarda a imortalidade?

Finalmente, filho meu, não renuncie a mim. Coloque-se em minhas mãos e seja feliz. 

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Dever de irmão

quinta-feira, 20 de março de 2014


Diana desejava ser médica. Por não ter condições de pagar a faculdade de medicina, optou por enfermagem.

No ano de 1966, depois de uma palestra na escola, alistou-se no exército. Aquilo equivalia a trabalhar e ser muito bem paga.

Durante dois anos, trabalhou no presídio, em São Francisco. Duas vezes foi chamada para ir ao Vietnã e recusou.

Na terceira, com o posto de capitão, acreditou que estava preparada para enfrentar qualquer coisa e foi.

Designada como enfermeira-chefe da ala de ortopedia, tomou contato com soldados que sofriam amputações traumáticas.

Logo sua reputação de muito rígida se espalhou. Uma de suas principais regras era que às enfermeiras era proibido chorar.

Os homens feridos e à beira da morte, dizia, precisam de nossa força.

Também era muito direta com os soldados. Jamais disse a um ferido que iria ficar bom, se não fosse verdade. Não mentia.

Então, um quase garoto foi trazido ao hospital. Não devia ter mais de dezoito anos.

Imediatamente, Diana viu que nada mais poderia ser feito para lhe salvar a vida. Embora com muita dor, o soldado jamais reclamou ou se queixou.

Quando ele lhe perguntou se iria morrer, ela respondeu indagando qual era a opinião dele.

Como ele dissesse que achava que iria morrer, ela o orientou para que orasse, se soubesse.

O soldado lhe pediu que segurasse sua mão, enquanto ele fizesse a prece. Aí, alguma coisa estalou dentro dela.

Aquele garoto merecia mais do que uma mão que apertasse a sua.

Ela colocou seus braços à volta dele, permitiu que ele se aninhasse em seu colo e tocou seu rosto.

Beijou-o e juntos, recitaram a oração que ele lembrava:

Ao deitar-me, peço ao Senhor que guarde a minha alma. Se eu morrer antes de acordar, peço a Deus que cuide da minha alma.

Ele deu um suspiro, olhou-a e disse apenas uma frase mais: Amo você, mamãe, amo você.

E morreu, nos braços de Diana, calma e tranquilamente, como se tivesse mergulhado em repousante sono.

Quando Diana ergueu os olhos, deu-se conta de que não somente ela quebrara suas regras, mas igualmente as demais enfermeiras. Todas choravam, silenciosamente.

A enfermeira-chefe retirou-se para seu quarto, pensando na mãe do soldado morto.

Ela receberia um telegrama dizendo que o filho morrera de ferimentos de guerra.

Diana ficou a pensar o quanto aquela mãe se perguntaria como morrera seu filho.

Teria sido no campo de batalha? Alguém estava com ele? Teria sofrido muito?

Por isso, tomou de uma folha de papel e caneta e escreveu uma carta. Seria bom que a mãe soubesse que, nos últimos momentos, o filho pensara nela.

Mas, com certeza, o mais importante para aquele coração materno seria saber que seu filho não morrera sozinho.

* * *

Uma enfermeira que serviu no Vietnã dizia que todos os soldados pertencem a alguém.

Eles têm pai, mãe, mulheres, filhas...

Têm alguém que os ama.

Importar-se com essas pessoas, com certeza, vai muito além do dever de qualquer enfermeira.

Importar-se com quem está aguardando notícias e vive a angústia da espera, é dever de irmão que entende o drama do seu irmão.

Isso se chama amor ao próximo. Isso se chama dever de irmão.

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A equipe mais importante...

segunda-feira, 17 de março de 2014


Era o dia das profissões na escola municipal. Os pais compareciam e relatavam detalhes de como exerciam sua profissão. Os alunos, curiosos, faziam perguntas.

Algumas profissões encantavam a turma pela coragem necessária, como a dos bombeiros; ou excitavam a fantasia da criançada, como a de ator ou músico ou jogador de futebol.

Quando o pai de Sérgio entrou na sala, o menino foi escorregando na cadeira, desejando se esconder. Ele ficou imaginando o que o pai iria dizer. Corou de vergonha.

No entanto, Roberto, mostrando-se bem à vontade, contou que no momento estava desempregado.

Que profissão é esta? O que é, exatamente, que o senhor faz? Perguntou, logo, um afoito garoto.

Bom, eu diria que minha principal ocupação, no momento, é procurar trabalho.

Um grande silêncio se fez na sala. Corajoso, continuou o seu relato.

Imaginem vocês que somos uma equipe de futebol e estamos perdendo de quatro a zero. Então, temos duas alternativas: podemos desistir ou podemos lutar até o final do jogo e tentar reverter o placar. O que vocês fariam?

A turma se entusiasmou e cada um foi dizendo que continuaria jogando, que faria cinco gols para ganhar a partida, que daria o melhor de si...

Pois é, continuou aquele pai, imagino quantos de vocês têm pais que trabalham o dia todo fora de casa e, à noite, quando chegam cansados, ainda se desdobram com as tarefas domésticas.

Penso em quantos de vocês têm irmãos mais velhos que, depois de terem saído de casa, para ganhar a própria vida, sofreram dificuldades e tiveram que voltar para a casa dos pais.

Tenho certeza que alguns de vocês vêm para a escola acompanhados por um irmão ou uma irmã.

Isso é equipe. Um ajuda o outro, sustenta o outro, ampara.

Eu sou o jogador de uma equipe maravilhosa, a mais sensacional equipe que se possa ter: minha família.

Nesse momento, Sérgio levantou a cabeça, voltou a se sentar ereto e começou a prestar atenção no que dizia o seu pai.

Família é o que há de mais importante na vida. Minha família me sustenta, nesse período, em que saio, a cada dia, tentando conseguir um trabalho.

Quando acordo pela manhã, é o sorriso da minha família que me anima a prosseguir lutando, buscando.

Minha família suporta meu mau humor quando tenho um dia ruim. Somos uma equipe e, como no futebol, não importa em que posição estejamos jogando, não importa se estamos perdendo a partida, o que importa é como se joga, porque sempre há a possibilidade de se reverter a situação.

Por isso, eu continuo, todos os dias, procurando um trabalho que me garanta auxiliar a minha família, enquanto ela mesma me sustenta, sem reclamar, sem acusar.

Minha família é a melhor equipe, a mais importante da minha vida. E, para cada um de nós, é com certeza, a equipe, graças à qual, vamos em frente, não paramos perante os obstáculos que possam se fazer maiores.

Família é amparo, é união, é auxílio.

Quando Roberto concluiu, foi tão aplaudido quanto qualquer outro dos pais que por ali havia passado, descrevendo os lances emocionantes de sua profissão.

Nos olhos das crianças havia o brilho da emoção. Em seus corações, a lição de um pai agradecido à esposa e filhos que lhe entendiam o esforço e lhe davam apoio.

Uma lição que eles levariam impressa, de forma indelével, para as suas próprias vidas.

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A maior Solidão

sexta-feira, 14 de março de 2014


A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo.

Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete.

Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

* * *

Se experimentas solidão no teu dia a dia, faze uma análise cuidadosa da tua conduta em relação ao teu próximo, procurando entender o porquê da situação.

Sê sincero contigo mesmo, realizando um exame de consciência a respeito da maneira como te comportas com os amigos, com aqueles que se te acercam e tentam convivência fraternal contigo.

Se és do tipo que espera perfeição nos outros, é natural que estejas sempre decepcionado, ao constatares as dificuldades alheias, olvidando, porém, que também és assim.

Se esperas que os outros sejam generosos e fiéis no relacionamento para contigo, estuda as tuas reações e comportamentos diante deles.

A bênção da vida é o ensejo edificante de refazimento de experiências e de conquistas de patamares mais elevados, algumas vezes com sacrifício...

Não te atormentes, portanto, se escasseiam nas paisagens dos teus sentimentos as compensações do afeto e da amizade.

Observa em derredor e verás outros corações em carência, à tua semelhança, que necessitam de oportunidade afetiva, de bondade fraternal.

Exercita com eles o intercâmbio fraterno, sem exigências, não lhes transferindo as inseguranças e fragilidades que te sejam habituais.

É muito fácil desenvolver o sentimento de solidariedade, de companheirismo, bastando que ofereças com naturalidade aquilo que gostarias de receber.

A princípio, apresenta-se um tanto embaraçoso ou desconcertante, mas o poder da bondade é tão grande, que logo se fazem superados os aparentes obstáculos. À semelhança de débil planta que rompe o solo grosseiro atraída pela luz, desenvolve-se e torna-se produtiva conforme a sua espécie...

Observa com cuidado e verás a multidão aturdida, agressiva, estremunhada, que te parece antipática e infeliz.

Em realidade, é constituída de pessoas como tu mesmo, fugindo para lugar nenhum, sem coragem para o autoenfrentamento.

* * *

Contribui, jovialmente, quanto e como possas, para atenuar algum infortúnio ou diminuir qualquer tipo de sofrimento que registres.

Esse comportamento te fará muito bem e, quando menos esperes, estarás enriquecido pela afetividade que doas e pela alegria em fazê-lo.

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A sabedoria de Receber

quinta-feira, 13 de março de 2014


Algumas pessoas têm uma grande capacidade para dar, para oferecer a outrem presentes variados. Capacidade de descobrir o de que o outro necessita e lhe providenciar, com presteza.

Mas, percebe-se, que alguns de nós temos dificuldade em receber o que nos é ofertado. Por vezes, em determinadas circunstâncias de nossas vidas, reagimos a certas dádivas, com quase intolerância: Detesto caridade alheia em meu favor.

Esquecemos de que o próprio Cristo, o único Ser perfeito que transitou pela Terra, não se furtou a aceitar o auxílio de um tal Simão, das bandas de Cirene, na Àfrica, a conduzir o próprio madeiro da crucificação.

Com certeza, como em todos os atos de Sua vida, aproveitou o ensejo para ensinar a sabedoria de receber. Ele dera tanto de Si, amor integral que era.

Mas, naquela circunstância, exaurido pela perda de sangue após o suplício dos açoites e a coroa de espinhos, a noite indormida, a falta de alimento e de água, agradeceu com o olhar o auxílio do Cireneu.

E continuou caminhando, até o local do suplício.

Igualmente, expressou gratidão ante a dádiva de Verônica que, rompendo o cordão de isolamento dos soldados, chega até Ele e lhe enxuga a face ensanguentada e suarenta: deixou impressa Sua imagem no linho alvo.

Recordamos de uma professora que foi enviada a lecionar em uma escola de periferia.

Ali, havia falta de tudo. A sala de aula era escura, sem pintura, de aspecto quase sombrio. As condições eram as mais adversas possíveis.

E os alunos eram filhos de homens e mulheres sem teto, sem emprego, e tinham de si mesmos uma imagem depreciativa.

Ela chegou e fez a diferença. Convocou o marido, amigos, conhecidos, os próprios pais e organizou mutirões. Conseguiu tinta e a escola ganhou cores festivas.

Plantou flores para alegrar a entrada. E uma horta, para benefício dos alunos, que tudo recebiam entre a surpresa e a hesitação.

Jamais alguém os presenteara tanto. Eles estavam habituados a ter coisa nenhuma, rumando de uma para outra banda, seguindo os passos incertos dos seus pais.

E agora, estava ali uma professora a lhes oferecer beleza, arte, conforto, carinho em todas as suas atitudes.

A maior alegria foi no dia em que ela, em tendo recebido o primeiro salário, adquiriu vários livros e os disponibilizou, montando pequena biblioteca, na sala de aula.

Livros didáticos, livros de histórias, livros coloridos, cheios de gravuras. Livros que enchiam os olhos e a mente! Aquelas crianças verdadeiramente os devoraram, folheando cada um como um tesouro inestimável.

A alegria delas enchia o coração da professora de felicidades.

A maior surpresa, contudo, foi quando começaram a chegar os presentes deles: uma flor colhida na estrada, a caminho da escola; um desenho, um cartão, uma frase rabiscada em pequeno pedaço de papel.

Era a sua vez de receber. E o fez, de forma admirável, redobrando-se em cuidados para com eles.

E guardou cada um daqueles mimos, emocionada, pensando: Meu Deus, eles nada têm e me oferecem presentes.

A sabedoria de receber. Receber gratidão, um abraço, um aperto de mão, um envelope com certa quantia de que tanto necessitamos, um presente inesperado.

Pensemos nisso e recebamos com alegria o que nos ofertam amigos, conhecidos, desconhecidos, alguém que se sentiu tocado pela nossa ação, pela nossa vida, pela nossa dificuldade.

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PEQUENOS CÉUS SOMADOS

terça-feira, 4 de março de 2014


O pássaro que voará mais alto é o pássaro que nunca desistiu de puxar a coleira.

Será a ave amarrada pelas patas que não se conformou com o confinamento da gaiola e que toda manhã esticará seu corpo até o máximo.

Até o máximo daquele dia.

Não pode se soltar, mas nem por isso se sentirá preso. Não é livre, mas nem por isso deixará de admirar a possibilidade de flanar.

Se não tem condições de brincar com as árvores, brincará com sua sombra.

Se não tem como brigar pela comida, valorizará o alpiste que recebe em sua tigela quebrando minuciosamente cada grão.

Se não tem vento para expor sua plumagem, baterá as asas para fazer vento em si.

Se não tem o sol na cara, levantará as unhas pelas barras das grades por um punhado de luz.

O pássaro que voará mais alto sempre é o que – enquanto não pode voar – canta, é o que – enquanto não pode subir – caminha, é o que – enquanto não pode planar – afia o bico.

Não reclamará da falta de opção, usará as opções que tem.

Não pode voar, mas treina seu voo esticando a coleira até o máximo. Até o máximo daquele dia.

Puxará a corrente ao limite. Somará pequenos céus com os centímetros de sua corrente.

Tudo o que voará depois será resultado de tudo o que andou em seus limites. Cinco passos repetidos à exaustão darão o condicionamento de quilômetros. Não estará

destreinado para as alturas, já que exercitou seu fôlego no chão.

Não desistiu de avançar mesmo com a ausência de espaço. Não se restringiu a uma aparência apagada. Não se encabulou pelo sofrimento.

Quando não havia chance de sair dali, aproveitou a solidão para se conhecer.

Quando não havia com quem conversar, aproveitou o silêncio para afinamentos.

Deveria ser triste pelas suas circunstâncias, porém é feliz pelo temperamento.

Deveria ser melancólico pelo destino, porém é confiante no acaso.


O pássaro que desaparecerá um dia no alto das nuvens, como se fosse mais uma nuvem, foi o pássaro que jamais parou de tentar.

Só voará alto quem carregou suas penas.

Só voará alto aquele que criou seu lugar um pouco por vez, aquele que formou sua virtude em segredo, aquele que não culpou a vida para se manter parado.

Liberdade vem com o tempo, liberdade vem devagar, liberdade é esforço. Não ser do tamanho de nossa prisão, mas ser do tamanho de nossa vontade.

Fabrício Carpi Nejar

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A visão de carnaval por Dom Helder Câmara

segunda-feira, 3 de março de 2014


Salve Maria!

Não é de se surpreender que o tão famoso Dom Helder Câmara, falecido Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, fosse simpatizante do carnaval. Nesta sua crônica de 1975 na Rádio Olinda, vemos a sua visão "purificadora" do carnaval, chegando a ponto de chamar aqueles que são contra o carnaval de "fariseus".

Eis o texto:

"Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: ô jardineira por que estas tão triste? Mas o que foi que aconteceu....Tú és muito mais bonita que a camélia que morreu...Brinque meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que quarta-feira a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!"

(Dom Helder Câmara, 01 de fevereiro de 1975, durante sua crônica radiofônica "Um olhar sobre a cidade" da Rádio Olinda AM)

Fontes:
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